A Psicologia Hospitalar e o Luto
Antigamente a morte vista diferente do que é hoje, antes ela ocorria nas casas. Os velórios eram feitos em casa, com a família era reunida e cada uma tinha seu próprio ritual, que muitas vezes eram ligados a uma religião.
Com o avanço da medicina e dos hospitais, a morte passou a ocorrer em hospitais longe dos familiares e foi se criando a ideia de que a morte é algo a ser combatido, a ser vencido a todo o custo, trazendo consigo a ideia de que ela é uma derrota, quando na verdade a morte não é uma é apenas um fato.
Dentro de um hospital nós, psicólogos hospitalares, acompanhamos os pacientes nos mais diversos momentos, na sua chegada, com sintoma, sem diagnóstico, durante o tratamento e durante a cura ou durante a morte.
Com a perda de um paciente, podemos vivenciar no ambiente hospitalar diversos lutos, seja o do paciente, do familiar e da equipe e vamos falar sobre eles…
O Luto no Hospital
O luto é um processo, dinâmico, fluido e que se transforma com o tempo. É um processo de aprendizagem que inclusive é relacionado a cultura.
Cada cultura, cada religião vive e expressa os sentimentos relacionados a morte a sua maneira. Por exemplo, na Índia os rituais da morte ocorrem no rio Ganges, acreditam que seres humanos reencarnam em animais. Já nos Estados Unidos faz-se um ritual de despedida onde as pessoas falam sobre o ente querido, é bem comum vermos isso em filmes. Os católicos fazem a missa do Sétimo dia, os Judeus fazem orações e rituais, enfim cada um tem sua maneira de lidar com a morte.
O luto do paciente
Muitas vezes ao receber uma notícia de doença grave e incurável, o paciente pode perceber e observar em si a progressão da doença e perceber a aproximação da morte, podemos chamar estas sensações do luto do paciente, na qual:
- O paciente se enluta pela pessoa que ele foi;
- Pela perda da autonomia;
- Pela perda do trabalho;
- Pela perda da identidade;
- Perda dos laços sociais;
- Separação temporária pela hospitalização/ Separação definitiva pela possibilidade de morte, etc.
Quando falamos sobre o luto do paciente não podemos deixar de citar a obra da psiquiatra Elisabeth Kluber-Ross e seu livro “Sobre a Morte e o Morrer”, na qual ela descreve sobre o processo de morte e morrer de pacientes e nele ela apresenta algumas fases sobre a morte que são mais conhecidas como as cinco fases do luto, que são: Negação, Raiva, Barganha, Depressão e Aceitação. A partir da leitura dos livros da Kluber-Ross, é possível perceber que suas obras são de extrema beleza, e é voltado diretamente ao paciente e não aos familiares.
Vale ressaltar a frase da doutora Ana Claudia Quintana médica brasileira paliativista que diz que “o luto é um grande montanha russa.”
Luto do familiar
Para as familias o luto começa quando há o adoecimento, passa pelo tratamento, pelo óbito e pelo pós óbito.
Antes que exista a perda concreta de seu ente querido a pessoa acompanha o declínio de seu familiar. Inicia-se ai no início do diagnóstico o processo de Luto antecipatório.
Luto antecipatório
É um processo de luto que se inicia antes da morte, são as reações emocionais na eminencia de uma perda, que traz consigo reações de pesar e reflexões, que podem ser inclusive positivas, fazendo com que a pessoa se aproxime de seu ente, se desligando aos poucos do afeto. Contudo, pode ser negativo também, trazendo prejuízo na qualidade de vida.
O processo de luto antecipatório depende da relação das pessoas envolvidas e da dinâmica psíquica de cada um. Nela envolve a qualidade da relação com aquela pessoa, a história de vida e história de morte. Geralmente, alguém que morre sofrendo, causa um luto mais sofrido do que alguém que morre em paz.
A experiência do luto é desorganizadora, muda a vida de forma geral, fazendo com que o enlutado se torne uma outra pessoa, agora um novo mundo.
No luto antecipatório tem algumas intervenções que podem ser feitas como por exemplo, coisas práticas, os médicos avisam a eminencia de morte, há a liberação de visitas.
Para nós psicólogos cabe a escuta, a presença genuína, facilitar a expressão dos sentimentos e validá-los quando se fazem expressos, fortalecer e buscar recursos de enfrentamento, bem como validar os cuidados que a família oferece e acolher a angústia.
O processo de luto pode passar por um período agudo, logo após a perda e ele pode se complicar ou se integrar.
Se a gente fizer um trabalho durante a fase antecipatória as chances de ter um luto complicado diminui muito.
Luto da equipe
A equipe multiprofissional e isso inclui a todos, inclusive os profissionais da psicologia hospitalar, cuidam integralmente do paciente e quando há a perda dele, não é nada fácil, principalmente dependendo da idade e motivos da morte.
O luto da equipe, é um luto negado, não reconhecido, pois a experiência de perda não pode ser admitida, o luto não pode ser expressos, não há suporte social, mas ele é real.
Nesses casos, é importante que haja espaço para que a equipe também possa expressar seus sentimentos e possa também elaborar seu luto.
Para finalizar vamos encerrar com uma frase do Colin Murray Parkes
“O desejo de olhar de frente para os problemas do luto e do enlutamento em lugar de voltar as costas para eles é a chave para um trabalho bem sucedido com o luto… Os que estão presos nos lembram da precariedade de nossa liberdade, os pacientes de câncer nos lembram nos lembram da nossa própria condição de mortais. Os imigrantes que usurpam nosso território, a viúvas e os viúvos que nos provam que a qualquer momento nós também podemos perder as pessoas que amamos são fonte de ameaça e ansiedade. Escolhemos lidar com o medo virando as costas para aquilo que o causa, rejeitando o prisioneiro, tentando animar o paciente com câncer, excluindo o imigrante, ou evitando o contato com a viúva e com o viúvo. Mas cada vez que fazemos isso somente aumentamos o nosso medo perpetuamos os problemas e perdemos a oportunidade para nos preparar para as mudanças que são inevitáveis em um mundo em transformação”
Escrita perfeita, como integrante de uns equipe muti, me identifiquei. Parabéns pelo material.
Obrigada pelo feddback Priscila, fico feliz em saber que vc gostou
Tenho trabalho apresentado em Psicologia Hospitalar, no Congresso Brasileiro de Psicologia Hospitalar/ Salvador- BA-Setembro/ 2019:
http://schenautomacao.com.br/psico/envio/files/695.pdf
Tenho interesse em receber novidades, cursos na área da Psicologia Hospitalar.
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Ótimo conteúdo .
Boa tarde!!gostaria de comprar o caderno, como faço?
Olá Nara,
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